Muito Além do Futebol... (4)

Se Pelé foi ou não melhor que Maradona, é uma questão pura e simples de opinião: além do fato de ambos terem jogado em épocas diferentes (quando Maradona nasceu, Pelé já era campeão mundial com a seleção brasileira), jogaram em times completamente diferentes - e aí não há problema nenhum em dizer que as seleções brasileiras de 58 e 70, por exemplo, foram superiores, tecnicamente, aos times argentinos de 86 e 90, para focar nas Copas em que tanto Diego quanto Pelé jogaram as finais - e, principalmente, suas posições em campo eram diferentes, por mais que ambos vestissem a camisa 10: enquanto "D10S" foi meia-armador, o "Rei" era segundo atacante.

Feita a introdução, chegamos ao ponto chave: o desprezo dos brasileiros por Maradona, que em última instância reflete o asco que este têm pelos argentinos, de modo geral. Um exemplo interessante pôde ser dado quando, em abril deste ano, o piloto Felipe Massa fez uma comparação entre Senna e Schumacher com Maradona e Pelé, dizendo que o alemão está para a F-1 assim como o jogador brasileiro para o futebol e, consequentemente, o piloto brasileiro seria o jogador argentino. Em fóruns de internet, houve revolta absoluta dizendo que Massa "não podia ter falado uma besteira dessas" e muitos chegaram a dizer que Felipe "ofendeu a memória de Senna".

Felizmente, não são todos os brasileiros que nutrem a mesma opinião e, ainda que possam considerar Pelé superior a Maradona nos campos, não deixam de admirar as virtudes do argentino, que certamente foi um dos melhores jogadores já surgidos em qualquer época e um personagem emblemático que alcançou a posição de ídolo não somente na Argentina, mas em vários países do mundo, especialmente na Itália, onde foi escolhido o "jogador do século" em eleição da FIFA em seu site oficial (!). No entanto, conforme o jornalista José Guillermo Culleton nos mostra em um trabalho publicado na Revista Científica da Unisul, a imprensa brasileira insiste em rebaixar Maradona, de modo ofensivo, muitas vezes.

Quem se interessar, poderá ler o material elaborado por Culleton clicando no link acima. Na matéria - que não sei se é monografia ou alguma tese de especialização ou ainda um trabalho acadêmico de graduação - o leitor irá encontrar uma análise de duas reportagens distintas de dois jornais distintos: o "Clarín", da Argentina, e o "Diário Catarinense", do Brasil. As matérias foram publicadas no mesmo dia - 21 de abril de 2004 -, quando Maradona havia sido internado numa clínica argentina para tratamento de desintoxicação.

Transcrevo aqui dois trechos do trabalho de Culleton que denotam perfeitamente o que temos tentado mostrar nesse blog: "A objetividade da imprensa nos dois países fica comprometida no Caso Maradona (...): na Argentina, admiração e idolatria; no Brasil, desprezo e preconceito". [página 3]. "Cada um dos textos ressaltou o que mais interessava a seu público. A matéria do Diário Catarinense destacou a decadência do ex-jogador, causada pelo uso de drogas. Salientando esse aspecto, identifica-se com o sentimento dos seus leitores". [página 7]