domingo, 13 de setembro de 2009

Isso é Jornalismo! (5)

A matéria a seguir foi publicada com o nome "O Brasil Visto da Argentina" no site PedroDoria. O texto reproduz trechos de uma reportagem do jornal "La Nación".

O tom da reportagem, como se poderá ver, é muito respeitoso.

Mas, sabe-se lá o porquê, os comentários não.

Exemplos:

"Outra grande vantagem que temos é a baixíssima concentração de argentinos. Hehehehe!"

"Argentino é muito bom, assado com uma maçã na boca."

"Isso é a prova que na Argentina também existe bom senso."

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Na Argentina, o diário La Nación diz a respeito do Brasil:

É a décima maior economia do mundo;

Maneja 40% do mercado de carnes do mundial;

É a oitava bolsa de valores por volume, tendo crescido 1.600% nos últimos cinco anos;

As exportações – 137 bilhões de dólares – dobraram em quatro anos.

E, por fim, a comparação que deixa os argentinos danados:

Nos anos 1940, o PIB de toda América Latina era igual ao argentino; hoje, o Brasil tem o tamanho de quatro Argentinas.

(Há de ser bom mesmo viver num país destes.)

Mas, no fim, como sugere à repórter Florência Carbone um de seus entrevistados, em meados dos anos 1990, só se falava do modelo chileno; pouco depois, vitorioso era o modelo argentino. Agora é a vez do Brasil. O quanto isto vale de fato? E, se vale, perguntam-se os jornalistas nossos vizinhos: qual o segredo do Brasil? A série inclui três artigos e uma reportagem.

Algumas coisas – a auto-suficiência em petróleo, por exemplo – é trabalho sólido. A Petrobras vem investindo há muitos anos, já, em tecnologia de extração. Some-se a alta dos preços do barril, que faz compensar a retirada de petróleo a grandes profundidades, e o investimento compensa.

O La Nación destaca também que aos oito anos do governo FHC seguem-se mais oito de Lula que, embora vindos de grupos de oposição um ao outro, dão seqüência ao mesmo jogo de políticas públicas. Há continuidade de governança. A política externa do atual governo também recebe elogios do principal jornal conservador argentino.

Daí, seguem-se fatores que os argentinos não podem controlar: o Brasil tem quatro vezes mais terra e uma população cinco vezes maior. Tem recursos minerais, do ferro ao carvão. Ajuda um bocado no processo de industrialização.

Mas o momento chave em que, o jornal considera, Brasil e Argentina
se separaram de vez faz muito tempo: a década de 1940. À época, quando o país deles era um riquíssimo agroexportador, os interesses do setor não permitiram o desenvolvimento de um parque industrial. Foi exatamente o que o Brasil fez. Desde então, a Argentina empobreceu e o Brasil enriqueceu.

Mas isto só conta metade da história na versão do La Nación: a projeção recente do Brasil no cenário global começa com o Plano Real, no governo Itamar Franco. É preciso levar-se em conta a
solidez das instituições públicas e privadas, políticas e econômicas, ‘que geram contrapesos no exercício do poder social, limitando as tentações por caprichos individuais’. Não são perfeitas, mas permitem ‘canalizar e articular interesses divergentes’. Quer dizer: o país funciona independentemente de quem esteja no governo.

A
conclusão dos argentinos – talvez aí surpreendente – é que o crescimento brasileiro é bom para eles se tomado o exemplo da relação Canadá, Estados Unidos. Se, no Brasil, conflitos políticos não mataram o projeto de desenvolvimento, caso argentino, o sucesso econômico daqui gerou investimentos lá. O melhor modelo, então, ainda mais agora que estabilidade política parece estar voltando também à Casa Rosada, é uma relação de interdependência.

Naturalmente. É só combinar com o adversário antes.

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