domingo, 27 de setembro de 2009

Raça X Nacionalidade (6)

"Ah, mas eles nos chamam de macaquitos".

O conceito supramencionado é o principal motivo apresentado por brasileiros para justificar sua xenofobia escancarada pelos argentinos. No entanto, a isso somam-se as ideias de que os vizinhos é que são racistas (representada pela frase) e arrogantes ("se acham os europeus da América do Sul"), sem contar que há um conceito geral de que "argentino é trapaceiro" - nascido no futebol e transposto ao mundo real - e também o "brasileiros são muito maltratados" quando vão pra lá.

Mas é interessante analisar a frase citada no início, pois ela acabou por se tornar um paradigma ao longo do tempo. Em outras palavras, tais conceitos dificilmente serão mudados, por mais que se mostre visões diferentes, e que essas visões partam de pessoas isentas no que se refere a qualquer "interesse" ou "parcialidade".

Já citamos em nosso blog o caso do jornalista, brasileiro, Ronaldo Helal, que fala sobre as diferenças nas provocações Brasil-Argentina (muito maiores por parte dos brasileiros) especificamente no campo esportivo; também falamos aqui anteriormente sobre o jornalista, brasileiro, Eduardo Szklarz, que segue a mesma linha de Helal, mas a abrange para o cotidiano, advertindo: "enquanto esculhambamos os argentinos, eles têm enorme carinho por nós".

São visões que demonstram que, ainda que não se possa dizer que a totalidade dos argentinos não tenha preconceito para com brasileiros, menos ainda se deve afirmar que a maioria deles o possui.

Sobre o termo "macaquitos"


Em entrevista concedida a Maurício Stycer, no iG, o jornalista Newton César de Oliveira (brasileiro, autor do livro "Brasil X Argentina: 1908-2008") defende que o termo é "muito mais chacota do que racismo".

Segundo Oliveira, "o termo, preconceituoso, vem da época da Guerra do Paraguai (1865/1870), quando os soldados argentinos lutaram lado a lado com escravos brasileiros". Temos, portanto, uma explicação lógica - ainda que nada louvável.

A primeira referência ao termo data de 1920, quando praticamente não havia nenhuma espécie de "fiscalização" editorial. Além disso, o artigo que acompanha a ofensiva charge - ver abaixo - foi escrito por um uruguaio (!!!), Antonio Palacio Zino.

É importante lembrar, também, que depois desse episódio - e outros tantos, não apenas na Argentina -, o presidente brasileiro Epitácio Pessoa destinou grande quantia de dinheiro à CBD para que só fossem convocados ao selecionado nacional atletas "brancos", e a razão era "prestígio pátrio" (!!!).

O autor segue afirmando que "isso se transpôs ao futebol", espelho de toda a relação entre os dois países, e diz que é "menos pelo racismo em si e mais pela chacota que pegou – como se sabe, tem apelidos que “pegam” e outros que não".

charge de jornal argentino publicada em 1920.

Seguindo a mesma linha de pensamento, temos o artigo (editorial) da revista "Entre Livros", brasileira, pertencente ao grupo Duetto, brasileiro, numa resenha sobre o livro "Argentinos: Mitos, Milongas e Manias", das jornalistas (brasileiras) Marcia Carmo e Mônica Yanakiew.

O título, que espanta à primeira vista, diz: "Os argentinos são uns macacos".

Mas logo de início é explicado: "esses argentinos são uns macacos! Diria mais: são muito macacos! E as argentinas também são macacas! (...) Macaco, além do animal, quer dizer lindo. Em espanhol, “mono” e “mona"".

Como vimos por aqui, na entrevista do jogador (brasileiro e negro) Baiano, argentinos se referem (uns) aos outros como "negro" em 95% das vezes de modo positivo. Ainda se permitem a chamar a um afro-descendente de "bombom", segundo o mesmo Baiano afirma ser lá conhecido -- a cantora Mercedes Sosa, branca, é chamada de "La Negra".

Ainda no artigo da Entre Livros, lemos o seguinte: "Já foi o tempo em que os argentinos, quando queriam ofender um brasileiro, chamavam-no de “macaquito”. Hoje a expressão anda em desuso e, se às vezes escapa de uma boca preconceituosa, depõe contra o agressor, não contra o agredido".

Em outras palavras: se há algum "macaquito" pronunciado nos dias de hoje, ele não tem mais nenhuma relação com a cor da pele.

PS: o brasileiro Túlio Pires Bragança, residente em Buenos Aires, afirma "nunca ter ouvido a expressão macaquitos"
PS²: o argentino Aquiles Caratino, que possui família no Brasil, afirma "nunca ter ouvido a expressão macaquitos".

2 comentários:

  1. Falem o que quiserem, os brasileiros são os mais racistas.

    ResponderExcluir
  2. que bosta de artigo, tentando justificar desesperadamente a atitude dos argentinos e uruguaios e passando a mão na cabeça de escritores racistas. o artigo do jornal de 1920 não chamava os brasileiros só de "macaquitos", falava ainda: “Hoje temos de acender a luz às quatro da tarde, pois os temos visto passeando pelas ruas, aos saltos”; “No carnaval, os maridos se abrem e as mulheres vão para a festa, como lhes dá vontade. Por isso que, cada vez que nasce uma criança, o casal tenta descobrir com qual vizinho ela se parece”; “A uma hora e meia da bela capital brasileira, gente inocente é degolada, se assalta sem medo e é latente a escravidão em suas nuances mais selvagens". mas isso é só o "carinho" deles né? melhor ficar calado do que falar esse monte de merda tentando defender o indefensável.

    ResponderExcluir