sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Isso é Jornalismo? (6)


Mais uma vez, percebemos como --infelizmente-- é verdadeiro o conceito que temos exposto aqui: os brasileiros, em sua maioria, não se contentam em vencer: é melhor ver os outros (leia-se, a Argentina) perder. Como diz Galvão Bueno, um dos responsáveis pela disseminação do anti-argentinismo no Brasil, "Ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é melhor ainda".

Só que esse pensamento jurássico atinge níveis que extrapolam a razão.

Hoje, dia 02 de outubro de 2009, o Rio de Janeiro (e não "o Brasil", como foi possível ver nos cantos de "Eu sou CARIOCA com muito orgulho, com muito amor") foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016. Não contidos em comemorar sua vitória, muitos passaram a (sim!) tirar sarro dos... argentinos!

Em diversas páginas do Twitter, pessoas escreveram "Chupa Buenos Aires". Não sabe-se o real motivo, tendo em vista que as outras candidatas eram Chicago, Madrid e Tokyo.

No entanto, o cúmulo desta hostilidade que não se contém em se alegrar, vem com a seríssima Rede Globo, através da página de esportes de seu site. A chamada da matéria, que comenta a repercussão da escolha carioca, estampa o site do "Olé" e diz: "Até argentinos exaltam escolha do Rio".


Na descrição, lemos: "Famoso por ironizar o Brasil, o jornal argentino ‘Olé’ se rendeu à escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 e destacou a decisão na capa de seu site nesta sexta-feira. O ‘Olé’ lembra que pela primeira vez a América do Sul receberá os Jogos e demonstra certa inveja do país vizinho: ‘Brasil baila: Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos dois anos depois’".

Os termos utilizados são absurdos.

Primeiro: Por que dizer "ATÉ os argentinos"? O povo da Argentina NUNCA fala bem do Brasil, é isso?

Segundo: O "Olé" não é famoso por ironizar o Brasil, mas sim por ser o principal diário esportivo argentino; tanto é assim que, como no caso do CQC, o "Olé" foi o primeiro de muitos jornais que seguiram a mesma linha (inclusive o "Lance!", do Brasil);

Terceiro: as ironias que acontecem, sim, muitas vezes por parte do Olé, são bastante específicas: elas se dirigem à seleção brasileira (ou aos times, na Libertadores) de futebol, mas nunca ao povo --nem é esse o papel que cabe a um diário esportivo, oras.

Quarto: Como assim, inveja? Aonde é possível perceber inveja quando se diz "Brasil baila"? Inclusive, a matéria entra em contradição pois no título diz que os argentinos "exaltaram" a escolha da sede...

Quinto: a incoerência chega ao cúmulo quando a mesma Globo lança uma segunda matéria inititulada "América do Sul comemora escolha do Rio". Porém, citam apenas Chile, Peru e Venezuela! --talvez querendo confirmar a ideia de "inveja dos argentinos".

Felizmente, o Portal Terra deu destaque positivo à imprensa argentina (inclusive ao Olé): O jornal [Clarín] utilizou o termo "felicidade sul-americana".

Não se percebe inveja: percebe-se falta de respeito. Por parte da Rede Globo, e não do Olé.

Um comentário:

  1. A matéria diz tudo. Eu pessoalmente afirmo que o Brasl é o país mais racista do mundo. Hoje na rua sofri hostilidades, só porque torço pela seleção argentina de futebol, o que não tem nada a ver com jogos olímpicos.

    Palhaços, patéticos!

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