quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Muito Além do Futebol... (13)


Diferente do que disse Arnaldo Jabor, a elite pensante do Brasil – ao menos parte dela – não merece “cartão vermelho”. Ainda existem pessoas esclarecidas, verdadeiros ídolos e formadores de opinião que não se omitem e não colocam a máscara do senso-comum. Pelo contrário, lutam para que as pessoas analisem as coisas como elas de fato são, e não apenas repitam o que os meios de comunicação transmitem.

O craque Careca (ex-Nápoli, Seleção Brasileira, São Paulo e Guarani) deu um verdadeiro exemplo de gratidão, companheirismo, senso de realidade, compromisso e caráter. Algo que deveria ser refletido pela população nacional que preza tanto um par de chuteiras. E essa mesma população tem a oportunidade de ouvir a opinião crítica e sincera de um dos seus maiores ídolos no ofício.

O goleador deixa um recado fundamental: "respeito ao povo argentino e a Diego Armando Maradona". Em um congresso sobre futebol em Brasília, um cidadão (?) brasileiro faz uma pergunta leviana, irresponsável e pejorativa - atingindo diretamente Maradona – para Careca, ex-companheiro de Diego no Nápoli, relacionada a exame anti-dopping e ao uso de drogas do gênio argentino.

Algo extremamente desrespeitoso, que antes da resposta de Careca acaba com o aval de uma jornalista (?) brasileira, que define como "muito boa" a pergunta, e ri de modo sarcástico sobre aquela indagação vergonhosa. Na sua falsa dúvida, a pessoa afirma que o exame de Diego daria sempre positivo e, para evitar isso, o companheiro brasileiro de clube é que deveria fazê-lo (logicamente, o vocabulário usado pelo personagem foi mais chulo).

São absurdos como esses que contribuem para a proliferação do racismo e dessa meia rivalidade (só o lado verde-amarelo tem os "hermanos" como principais rivais) que assola os nossos cotidianos. Em maioria, os aplausos para a pergunta confirmam a ideia de que realmente há essa xenofobia velada, misturada ao desprezo das qualidades do que não é "nosso".

De modo categórico e feliz, Careca mostra aos dois e a quem mais se importar como realmente deve se comportar um cidadão de opinião, colocando em primeiro plano a experiência de vida, dando importância acima de tudo aos bons momentos que vivenciou com Diego, afirmando que o problema com drogas cabe apenas a Maradona e a mais ninguém, dando ênfase ao lado humano do argentino (totalmente contrário àquilo que acusa a maioria dos brasileiros) e ao orgulho que teve em atuar ao lado do genial camisa 10.

Careca ainda lembrou da imensurável popularidade que Maradona tem pelo mundo, e da enorme proporção em que o argentino ajudou-o naquela nova fase de sua carreira. Fechou dizendo que “se nós, brasileiros, como povo, tivéssemos uma gota de sangue argentino seríamos diferenciados” e que "grupo argentino dificilmente se rompe". Resposta de quem sabe o que está falando, viveu no meio esportivo, argumenta e defende com conhecimento de causa e experiência própria, não se esconde e ajuda a combater os males do “brasileirismo”.

Felizmente, parte da elite brasileira ainda se manifesta com lucidez. E ficam as reflexões tanto a respeito da pergunta como da resposta. É preciso acordar.

Um comentário:

  1. Matéria excelente, e Careca é mais um que se junta ao seleto grupo de Ronaldo Helal, José Trajano, Ayrton Senna, roberto Carlos, Eduardo S., Newton Oliveira, Mônica Yanakiew, Marcia Carmo, e muitos outros, como aqueles que sabem refletir sobre a idiotia da "rivalidade" .

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