quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Isso é Jornalismo! (11)


O texto a seguir pode er encontrado no site oficial da Universidade Federal de Minas Gerais.

Pesquisador argentino fala da rivalidade entre Brasil e Argentina em entrevista ao Portal UFMG

Dezoito de junho. Mais um clássico entre Brasil e Argentina acontece na capital mineira, desta vez pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Ao lado do Mineirão, argentinos e brasileiros também se encontram nas salas da UFMG, para discutir política e cultura nos dois países, no Seminário Internacional Política e Sociedade na Argentina e no Brasil: Estado, Democracia e Cultura, que acontece até amanhã.

Alejandro Grimson, professor da Universidad Nacional de San Martín (Argentina) e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica (Conicet) – órgão argentino semelhante ao CNPq – conta que a realização do seminário no dia da partida é uma coincidência. O argentino que se diz torcedor do Brasil profere hoje a palestra Paixões nacionais: política e cultura no Brasil e na Argentina, às 9h30, no auditório Professor Bicalho, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Em entrevista ao Portal UFMG, Grimson fala da paixão pelo futebol na Argentina e no Brasil, tema que também será abordado na palestra.


Por que Brasil e Argentina cultivam tão grande rivalidade no futebol?

Em nosso estudo, constatamos que brasileiros e argentinos primeiro desejam seu próprio triunfo, depois a derrota do vizinho, o suposto “hermano”. A única diferença é que a seleção argentina tem dois clássicos. A Inglaterra, por razões históricas e políticas, é tão rival da Argentina quanto o Brasil. O único caso em que os argentinos querem o triunfo brasileiro é contra a Inglaterra.

O que significa para os argentinos um jogo contra o Brasil?

Joga-se pelo prestígio e pela honra. Os dois países, lamentavelmente, competiram ao longo do século 20 pela hegemonia sul-americana. Com o Mercosul e o relativo êxito do Brasil frente à crise argentina, a competição continua existindo, mesmo que de maneira menos confrontativa. O futebol é o âmbito em que essa competição está moralmente autorizada. Trata-se de licença moral de enfrentamento entre os dois países.

Quais são as semelhanças e diferenças entre as sociedades argentina e brasileira?

Os dois países viveram tensões complexas entre seus Estados e sociedades, entre as pretensões de modernização e suas frustrações. Mas, comparativamente, o Brasil é um país de mais continuidade política, enquanto a Argentina enfrenta crises econômicas e políticas cíclicas. Isso marca muitos elementos culturais. Contrastando as duas sociedades, o Brasil é o país dos matizes políticos, étnicos, dos sentimentos que os cidadãos têm a respeito da nação. Os brasileiros têm uma visão mais positiva de seu país que os argentinos. Essa descontinuidade argentina torna-a um país mais binário, com menos matizes. Somos conhecidos como soberbos e é freqüente escutar que falamos de maneira exagerada de nosso próprio país. Mas o que não se sabe é que os argentinos também falam muito mal, todos os dias, do país, dos políticos, da produção, o que gera situações de autodifamação.

Como os dois países podem aproximar suas relações sociais?

Quando os argentinos viajam ao Brasil, quebram o estereótipo de país do carvanal; vêem a produção e a modernidade brasileira. Quando os brasileiros viajam à Argentina – a Buenos Aires, à Patagônia – se surpreendem com o uso do espaço público, com a menor violência e desigualdade social. Os argentinos são muito mais cordiais do que imaginam os brasileiros; menos soberbos do que indica o estereótipo. Geralmente, a música brasileira viaja bem à Argentina. O cinema, ao contrário, se vê pouco. São países que se deram as costas durante muito tempo e têm muito a aprender um do outro. Para conseguir isso, a idéia de “hermanos” não é boa. É melhor reconhecer que temos estereótipos, preconceitos e ignorância. Assim podemos mudar.

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