quarta-feira, 7 de abril de 2010

Isso é Jornalismo? (19)


A Rede Globo age da seguinte maneira: defende os próprios interesses acima de qualquer suspeita. Assim, qualquer movimento contrário a estes deve ser totalmente ignorado. Se não for possível, é necessário ridicularizar até o último instante essa opinião "contrária".

Foi essa fórmula que o Jornal da Globo utilizou, dia 22 de março, para comentar a lista elaborada pelo jornal britânico "The Times": de acordo com a publicação inglesa, Maradona foi o maior jogador da história das copas do mundo, à frente de Pelé, o segundo.

Então, o narrador Luís Roberto, que tem uma participação especial no telejornal às segundas-feiras, destilou veneno contra a escolha, ironizando-a do início ao fim. Já antes, o apresentador William Waack, ao anunciar a lista, chamou o "Times" de "jornal paroquial" - sic -, pois estava fazendo uma "caridade" ao colocar Diego acima de Pelé. E, antes de passar a vez para Luís Roberto, disse que isso é um "absurdo completo".

Mas Luís Roberto conseguiu elevar isso a níveis ainda mais rasteiros: primeiramente, mostrou a lista dos dez primeiros, e depois falou das diferenças numéricas, com Pelé tendo ganho três copas diante de apenas uma de Maradona.

Porém, o narrador não mencionou que na Copa de 1962 Pelé participou efetivamente apenas do primeiro jogo, e Garrincha teve todos os méritos daquela conquista, sem qualquer ajuda do "Rei" (ao fim e ao cabo, Pelé e Maradona disputaram duas finais cada: Pelé em 58 e 70; Maradona em 86 e 90).

E a cereja do bolo veio quando, para ilustrar a sua discordância, Luís Roberto selecionou dois lances (um de cada) dos gênios da bola: o gol com chapéu de Pelé na final da copa de 1958, e o gol com a mão de Maradona na copa de 1986: "Pra não deixar dúvidas", afirmou.

Luís Roberto seguiu dando outros argumentos fracos como "Pelé fez gol em duas finais, Maradona nunca fez nem um golzinho em final de copa" (sob esse raciocínio, Vavá e Zidane são equivalentes a Pelé). Tudo isso com um sorriso no rosto, como quem estivesse comparando Tom Jobim e Compadre Washington.

Trata-se de um enviesamento de opinião poucas vezes visto anteriormente (por que não mostraram o gol de Maradona que foi escolhido, pela FIFA, o mais bonito da história das copas?). Mas não só a Globo adotou essa postura de escárnio: a imprensa brasileira, de uma forma geral, 'esculhambou' com a lista feita pelo periódico londrino.

Poucas horas antes de o Jornal da Globo ir ao ar, o programa "Bem, Amigos" da SporTV comentou a lista e jornalistas como Alberto Helena Junior demonstraram verdadeiro inconformismo com a posição mais alta de Maradona. Num dado momento, a face de Helena chegou a ficar vermelha: em voz alta, ele dizia que "não tem nenhuma justificativa!".

Diante disso, deixamos aqui a dica de leitura do texto "A paixão cega na questão Pelé x Maradona", de André Baibich, publicado no portal esportivo internacional Goal.com. O autor, bastante lúcido, opina: "Reações brasileiras a qualquer lista que coloque o argentino à frente de Pelé são tão irracionais quanto a ideia de que Maradona foi mais jogador que o Rei do Futebol".

Um comentário:

  1. Incrível como eles adoram deturpar as coisas em seu favor.

    Penso também que não existe superioridade, existe igualdade entre Maradona e Pelé. Em determinados momentos um leva vantagem sobre o outro analisando tecnicamente, mas na soma final nenhum deve nada ao outro.

    Agora, vá explicar isso ao "zé povo" que puxa o saco da Globo.

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