sexta-feira, 8 de abril de 2011

Raça X Nacionalidade (40)

No Brasil é assim: olhos fechados para o que acontece aqui, dedo apontado para o que acontece 'lá fora'. É óbvio que alguém tentará contestar essa afirmação, dizendo que muitos criticam seu país, e elogiam outros, especialmente os do "1º mundo", mas não estamos aqui falando de política-segurança-transporte-alfabetização-saúde pública.

Como dissemos em várias das postagens recentes, os casos negativos estrangeiros - principalmente, mas não somente, os argentinos - são vistos sempre como se tais "exemplos" refletissem a realidade geral, e nunca a exceção. Se uma situação idêntica (ou pior) acontece no Brasil, fala-se em tom de 'fato isolado': isso quando se menciona, é claro.

Na última quinta-feira, com a deprimente chacina em uma escola fluminense, os noticiários se ocuparam mais em fazer uma "retrospectiva" de casos que aconteceram nos EUA do que em analisar os problemas que envolvem essa tragédia (e também se tratou tudo como "inédito", esquecendo dos assassinatos num Shopping de São Paulo, em 1999, e do atentando numa escola em Taíuva-SP, em 2003).

Da mesma forma, incitações ao ódio e a formas de preconceito ocorridas em território brasileiro são muito menos repercutidas, e muito mais abafadas, do que manifestações semelhantes que acontecem em outros locais.

Um caso que ilustra bem essa situação é o do jogador de vôlei Michael dos Santos.

Santos, que joga pelo Araçatuba, foi ofendido pela torcida adversária com gritos de "Bicha! Bicha!" toda vez que ia fazer um saque. Trata-se de algo repugnante que EM ABSOLUTAMENTE NADA difere de quando torcedores espanhóis chamam atletas brasileiros de 'macacos'.

Mas não é assim que muita gente pensa, e inclusive jogadores do referido time adversário de Michael dos Santos classificaram como "coisa de torcedor" - ora! é assim mesmo que jornais da Espanha, Argentina, Itália, entre outros, se defendem quando há manifestações contrárias a negros por parte das torcidas dos respectivos: "isso é do futebol" ou "é só pra desestabilizar o adversário".

Michael deu a seguinte entrevista ao programa Globo Esporte:


Surpreende (de forma positiva) ver Tiago Leifert, um disseminador do preconceito para com os argentinos, defender de modo tão incisivo a condenação de tais manifestações.

Sabe-se, porém, que esse problema é muito maior. No Brasil, a ofensa a homossexuais é bastante comum, tanto é que têm surgido projetos para que crimes de homofobia se tornem passíveis, na legislação, das mesmas punições que, em teoria, o racismo sofre.

Não custa lembrar, também, que a Argentina aprovou no ano passado o casamento entre homossexuais (o mesmo acontece em seis estados dos EUA, na África do Sul e em alguns dos países mais desenvolvidos da Europa), e muitos brasileiros têm ido ao país vizinho para poder sacramentar, livremente, sua união.

Mas como essa aprovação é vista no Brasil? Como uma vitória dos direitos humanos? Como uma conquista no debate social? Não: é sempre vista com deboche, desprezo, e comentários por si só homofóbicos: "arGAYtinos", "só podia ser naquele país de viados", etc.

Um dia, quem sabe, a lei brasileira assumirá que isso é do mesmo tamanho de "macaco" e "preto de m..." e os autores de tais ofensas sofrerão as punições merecidas. E talvez se perceba o quanto a Argentina é avançada nas questões sociais.

Mas, infelizmente, nós lembramos que o Brasil foi O ÚLTIMO país do continente americano (45 anos depois da Argentina) a abolir a escravidão.

Um comentário:

  1. Infelizmente vivemos num país onde é mais vergonhoso ter um filho homossexual, por exemplo, do que ter um filhão machão que enche a cara, pega um carro e sai matando inocentes na rua. Mas ainda há esperança se os jovens de hoje educarem seus filhos para que o preconceito nunca faça parte da sua realidade.

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