domingo, 28 de outubro de 2012

Isso é Jornalismo? (38)

Beleza. Muito legal, muito bonita a "atitude" da Rede Globo de levar o menino Gabriel para a Espanha e conhecer seu ídolo Messi bem como a estrutura do atualmente maior clube do mundo.

(Essa descrição bem que mereceria um "duetos" no topo da página.)

Mas, de novo, eles conseguem achar um jeito de estragar tudo, mostrando toda sua prepotência ao disseminar preconceitos e decretar verdades que nascem de uma ótica muito, MUITO questionável.

O video abaixo é a primeira parte da reportagem exibida no último domingo, durante o "Esporte Espetacular". A equipe jornalística acompanhou o garoto e registrou tudo.

É uma matéria muito bacana até os 10 minutos (sugerimos o leitor correr o video para esse ponto).

Gabriel nasceu sem os pés. Mas tem um talento especial para o futebol. Quando falam sobre o primeiro treino do garoto no Barcelona F.C., vem a grande mancada da emissora:
Narração do repórter: "só que no treino do Gabriel uma imagem chamou a nossa atenção: Gabriel se aproximou, repare. Ali um garotinho olhando para baixo rapidinho, meio desconfiado. tipo assim: 'será que esse brasileirinho aí, sem os pés, joga bola mesmo?'"



Como falamos numa matéria de 2010, sobre o acidente de Maradona, a entonação do repórter explica tudo: as duas palavras mais enfatizadas na frase acima foram "BRÁsileirinho" e "MÊSmo?".

Há, pelo menos, três erros capitais:

1- o simples fato de tal cena ser exibida, dando enfoque à "deficiência" (entre aspas, mesmo) de Gabriel, inclusive com uso da câmera lenta.
2- a "leitura do pensamento" do menino espanhol, transmitindo tal frase como se de fato fosse de sua autoria.
3- imputar a uma CRIANÇA o rótulo de preconceituoso contra origem ("esse BRÁsileirinho")  e condição física das pessoas ("sem os pés").

Enfim, em menos de 20 segundos conseguiu-se tornar o que tinha tudo para ser uma grande reportagem em mais um PÉSSIMO exemplo de disseminação de preconceito.

Não do garoto espanhol, e sim da empresa que controla a informação no Brasil.

"É assim mesmo, na Espanha os caras não gostam de brasileiros".

Um comentário:

  1. Às vezes cansa de identificar problemas, evidenciar absurdos. Essa empresa se agiganta cada vez mais às custas do sensacionalismo e emocionalismo barato.
    O pior é que tudo isso vem recheado de um caráter no mínimo discutível e de um indisfarçável programa de perpetuação de preconceitos. Por fim, ao mesmo tempo que alimenta rancores, insufla a tolerância ao mal e a permissividade.

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