terça-feira, 2 de julho de 2013

Duetos (56)

Ricardo Rocha, importante zagueiro na história do futebol brasileiro, é também ídolo na Argentina, e (em matéria da ESPN Brasil) revela ter o "coração dividido" nessa semifinal entre Atlético-MG e Newell's Old Boys.

//

Mentor de Heinze, Guiñazu e outros, Ricardo Rocha 'pagou' até salário no Newell's

Ricardo Rocha e Maradona, em 1997.

Tetracampeão mundial, Ricardo Rocha chegou ao clube de Rosário, segundo ele, para acrescentar experiência a um grupo formado por garotos e, assim, amadurecê-los na tentativa de fazer dinheiro em futuras transferências.

A aposta foi mais do que acertada.

Daquela geração que dava seus primeiros passos pelos leprosos, como são conhecidos, entre 1997 e 1998, surgiram nomes como Walter Samuel, Guiñazu, Damián Manso, Heinze e Sebá Domínguez. Ricardo Rocha era quase como um ‘pai' para todos eles. O xerife, no sentido mais afetuoso do termo. O responsável ao menos por um mês por evitar que seus salários atrasassem.

O então presidente do Newell's, Eduardo López, não era uma das figuras mais bem vistas pelos torcedores. Comandou os semifinalistas da Libertadores por quase 15 anos. Chegou ao poder em 1994 e deixou somente em 2008, acusado de ‘boicotar' as eleições no período.

Com Ricardo Rocha, no entanto, não teve problema.

Se dependesse de sua vontade, teria trazido o defensor campeão da Copa de 1994 um ano antes. Tentou mantê-lo em Rosário até 2000, mas o corpo começava a dar mostras de cansaço, a saudade bateu e o capitão foi encerrar a carreira no Flamengo.

Antes disso, um último favor.

Dono de bingos, Eduardo López enfrentava dificuldade para manter a folha do Newell's em dia. Não havia grandes nomes no elenco. Ao lado de Ricardo Rocha, a referência era o também veterano Sergio Goycochea, goleiro. Mesmo assim, faltava dinheiro em caixa para bancar o time.

O presidente rubro-negro decidiu, então, pedir a Ricardo Rocha um empréstimo. Mais ou menos 100 mil pesos - numa época em que a moeda tinha o mesmo valor que o dólar. O brasileiro aceitou e por pouco não ficou sem reaver a grana.

Na hora de cobrá-la, veio o apelo.

"Ele me devia um dinheiro, mas, quando foi me pagar, disse que estava com uma situação difícil. Falei, então: ‘Não precisa me pagar. Paga aos jogadores'. Fiz isso para ajudar o clube. Não tinham de onde tirar naquela época. Mas, no final, me pagou", relembra o ex-jogador ao ESPN.com.br.

"O grupo era muito bom. Muitos garotos mesclando com os mais experientes. No final, vários deles acabaram indo para a Europa ou para um Boca ou River da vida. Quando cheguei, estávamos lutando contra o promédio (rebaixamento) e fomos crescendo até escapar", completa.

Ricardo Rocha fala uma, duas, três vezes das saudades de Rosário. Perde a conta. Mas ele teve a chance também de trocar de cidade, se mandar para Buenos Aires e atuar no Boca Juniors de Diego Maradona, que vinha de uma passagem pelo próprio Newell's.

"Ele me queria no Boca, tinha o Caniggia também, me ligaram e tudo, mas pelo carinho que tinha da torcida do Newell's, não poderia fazer isso", afirma.

Antes mesmo de encerrar a carreira no Flamengo, o zagueiro teve o seu nome ventilado como possível coordenador da seleção no Mundial de 1998. Zico foi o escolhido. Agora ele quer saber apenas de acompanhar a decisão contra o Atlético-MG a partir de quarta-feira. "Sempre vou torcer pelo Brasil, mas nesse caso o coração fala mais alto, também vou ficar feliz com o Newell's", diz.

Um comentário:

  1. Se fosse na Globo, diriam que um brasileiro sofrido salvou um time argentino quebrado.

    ResponderExcluir