Diversas vezes ressaltamos neste blog que a rivalidade entre Brasil e Argentina também atingiu esferas políticas e econômicas – como não poderia ser diferente, do ponto de vista geográfico, inclusive; mas nessa semana (ratificando nossas inúmeras demonstrações de que a situação é secular), tivemos conhecimento do caso mais grave: a cogitação de guerra entre os dois países – por iniciativa do Brasil; e mais do que isso, o país tupiniquim provocaria um conflito nuclear, se preciso fosse.
Encontro entre Augusto Pinochet e Ernesto Geisel |
O jornal “O Estado de São Paulo”, revelou arquivos secretos do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) – incluindo a ata da reunião -, demonstrando que o presidente brasileiro à época, Ernesto Geisel, admitiu a possibilidade de o Brasil construir uma arma atômica, bem como declarar guerra contra a Argentina.
Em reunião com o Alto Comando das Forças Armadas, precisamente em 1974, Geisel exterioriza “preocupação” do governo e dos militares em relação ao fato de a Índia ter detonado uma “bomba teste”. Intrigante, porém, é que longínqua atitude Indiana serviu como argumentação para que o Presidente cogitasse a possibilidade dos Argentinos também estarem realizando a mesma prática. Visando evitar que o Brasil “ficasse para trás” econômica e militarmente, Geisel se refere também à Argentina – que avançara significativamente no setor:
"Por seus importantes reflexos sobre a segurança nacional, não desejo encerrar esta exposição sem uma referência especial à política nacional para o uso da energia nuclear (...). A explosão recente de uma bomba nuclear pela Índia provocou comoção mundial e temos que considerar a hipótese de, em futuro não longínquo, a Argentina também pode explodir a sua. Evidentemente, isto gera inquietação entre nós e todos indagam qual será a posição do Brasil face à situação”, avisou o Presidente ao Alto Comando. Mas isso não é tudo: o general foi mais direto do que possamos imaginar, afirmando que a os argentinos tiveram "relativa facilidade de encontrar urânio", sendo "mais favorecidos pela natureza que o Brasil"; afirmando que a obtenção de consideráveis quantidades de plutônio, "poderia (grifo nosso) servir para os hermanos construírem uma arma nuclear". Incisivamente, Geisel não rogou-se em acrescentar: "nesse quadro, devemos evitar a abordagem passional do problema, capaz de nos conduzir a decisões precipitadas, por influência das supostas possibilidades ou intenções da Argentina (...). Dentro da necessidade de atualização, ressaltada pelo EMFA, o conceito deverá abranger a hipótese de guerra continental envolvendo a Argentina".
Documento Secreto: Ordem de Espionagem |
rigadeiro Waldir de Vasconcelos, mais tarde ministro-chefe da EMFA, em relação a participação da Força Aérea no conflito contra a Argentina. "
Documento Secreto: Armas Nucleares |
Portanto (ainda que na informalidade), se alguém cogitar a possibilidade de bombardear a Argentina, não será idéia inédita; na década de 1970, Ernesto Beckmann Geisel não se inibiu – como em todos seus monstruosos atos ditatoriais -, e incumbiu-se de tamanho descalabro.
Nota do blog: Felizmente, com a transição para governos civis nos anos 80, a cooperação entre os dois países teve grande progresso, onde foram celebrados diversos tratados internacionais, tendo como os mais importantes: o Tratado de Tlatelolco (Tratado de não proliferação de Armas Nucleares na América Latina), em 1994, que tinha por finalidade a criação de uma Zona Livre de Armas Nucleares (ZLAN), abrangendo toda a América Latina e Caribe; e o Acordo Quatripartite (1994), onde Brasil e Argentina comprometeram-se a aceitar a aplicação de salvaguardas internacionais a todos os materiais nucleares, entre outros.
Uma grande mensagem implícita para as pessoas que sentem "saudades da ditadura".
ResponderExcluirNunca mais!