quinta-feira, 15 de maio de 2014

Isso é Jornalismo? (53)

Mais uma vez um clube argentino superou uma equipe brasileira na Libertadores da América. A superioridade histórica dos argentinos no referido torneio é facilmente constatada TANTO em números absolutos (títulos, aproveitamento em finais, etc) QUANTO em confrontos diretos: foram 13 finais entre times dos dois países, e em nada menos que 9 delas os vencedores foram os vizinhos. Os números vão se refletir iguais quando se tratar de confrontos eliminatórios, como foi o caso da partida de ontem [quartas-de-final].

Como conviver com isso e seguir afirmando a máxima "país do futebol" - afinal, a superioridade que se verifica no número de títulos de Copas do Mundo não aparece em praticamente em mais nenhum outro comparativo que se faça entre outros países amantes do futebol e dedicados ao desporto (e aqui não se quer afirmar que a Alemanha, a Argentina, a Itália ou a Espanha SEJAM de fato o "país do futebol")?

Alguns personagens da imprensa brasileira sabem o que fazer.

O "jornalista" Ricardo Perrone resolveu manipular alguns dados e acabar com 31 edições de Libertadores ao afirmar que "nos últimos 23 anos o incrível baile que o futebol brasileiro deu na América do Sul através da Libertadores". Perrone afirma: "desde 1991, fomos a todas as semifinais. Nestas 24 edições de Libertadores mais recentes, fomos as semi em 23. Vencemos 12. Fomos a 19 finais."

Desinformação.

Em outra matéria, Perrone faz uma análise do jogo em si, e nela afirma: "Em momento algum nos 2 jogos o San Lorenzo quis jogar bola. Argentinos quase nunca querem jogar bola." Depois, escreve: "[os argentinoa] Tem “sangue de barata”, talvez pelo parentesco, enfim". Mais adiante, outra pérola: "Fair Play é algo que demonstra lealdade no esporte. Fair Play contra argentino é atestado de otário em quase todas as oportunidades".

Piadinhas sem graça.

Após as matérias a respeito do duelo da Libertadores, ficamos curiosos sobre quão honestas - no sentido de serem sinceras, de realmente representarem o "pensamento" do Sr. Perrone - seriam essas frases e fomos procurar entender melhor. Em seu perfil no site, ele afirma: "Sobre pontos corridos você sabe o que penso. Sobre o Rio, a Argentina e o pênalti de domingo, idem. Suficiente para me odiar ou adorar."

Afinal, o que ele pensa sobre a Argentina?

Eis que chegamos ao post "Papo Reto: Argentina", de 13 de junho de 2010, portanto, feito pensando na última Copa do Mundo. Afirmações do sr. Perrone:

- "80% das coisas que digo da Argentina são pra cutucar"
- "Acha que eu trato a Argentina diferente do que as demais seleções? Tens razão. Trato mesmo. Primeiro com ironia, por mero gosto pela piada. Segundo porque eu realmente acho que a grandeza deles é menor do que pintam por aqui."
- "Eu acho, de verdade, o futebol argentino forte. Só que forte naquele patamar deles, não no nosso."
- "Venceu uma Copa da forma mais nojenta que existe, que é comprar um adversário. Caso contrário, todos sabem, não venceria. E com isso, lembrem-se, nos tiraram da final."
- "Pra mim, não se comparam ao nosso futebol de forma alguma. Pra eles, são até melhores."

Por enquanto, apenas futebol. Mas Perrone faz questão de dizer que sabe diferenciar as duas coisas.

- "Eu ODEIO a argentina no futebol, não tenho nada contra as pessoas de lá, o país, a bandeira, o tango, a picanha, nada!"
- "O que eu tenho de sério contra eles é simples: Não gosto de racismo (...) Tá explicado? Acho que sim."

Então está explicado! Grande Perrone! Ele não gosta de racismo, que cara idealista!

Já falamos de Perrone aqui no blog, outra vez: foi no post "Muito Além do Futebol... (50)", onde comentamos, além das famigeradas definições do "jornalista" (sempre entre aspas) sobre o futebol argentino, a postura patética por ele adotada ao comentar o caso de homofobia com o jogador Michael dos Santos. Com aquele post EXTREMAMENTE PRECONCEITUOSO, Perrone conseguiu mais gente que não gostasse dele - e gente que provavelmente nem saiba de suas opiniões sobre a Argentina.

Outra curiosidade: ao citar "o racismo deles" como motivo sério para não gostar de argentinos, ficamos sem entender o post "Não somos racistas" -- mesmo nome do livro do Diretor de jornalismo da Rede Globo --, escrito por Perrone recentemente, falando sobre os ocorridos com Tinga e Arouca. Palavras do próprio: "Cinco! São no máximo cinco! Estamos falando de “racismo no futebol brasileiro” porque cinco caras, provavelmente imbecis completos, chamaram alguém de macaco. Não há uma dose de exagero nisso, não?".

Ele continua sua defesa: "Será que não há uma confusão entre o que houve no Peru e os casos isolados no Brasil? (...) Porque cinco pessoas num país que dentro do futebol convive muito bem com a diferença de raças, tornam o meio do futebol racista? (...) Tenho pena de argentinos e peruanos capazes de fazer uma manifestação dessas coletivamente. Isso sim é de se preocupar. Aqueles 5 idiotas em meio a, sei lá, 30 mil pessoas, não me causam qualquer vontade de debater o tema".

É isso! Brilhante! Perrone afirma que os brasileiros NÃO SÃO RACISTAS, que os peruanos e argentinos, sim, SÃO, que aqui tudo não passa de CASOS ISOLADOS, enquanto que lá é ATAQUE COLETIVO.

Tem como levar a sério?

Em resumo, Rica Perrone está para a Argentina assim como Flávio Gomes está para Ayrton Senna (entenda clicando aqui): em poucas palavras, são dois jornalistas que fizeram fama na internet com MUITO desrepeito às vozes discordantes e que adotaram uma postura: criaram um alvo predileto e o atacam, alegando estarem sendo imparciais, a fim de polemizar, gerar mais pageviews e cliques. Além disso, buscam dados e estatísticas para "comprovar" suas ideias e tratam por "teoria da conspiração" ou "inveja" tudo aquilo que seja dito em contestação às verdades criadas por eles.

São 2 idiotas em meio a, sei lá, 30 mil pessoas.

Um comentário:

  1. Típico caso de contra atacar antes de ser atacado...

    Excelente postagem! A verdade é que ambos não enganam ninguém com seus discursos.

    Abraços

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