sábado, 19 de julho de 2014

Isso é Jornalismo! (63)

Nessa formidável entrevista publicada pela Folha de S.Paulo, Ronaldo Helal -- já muitas vezes citado em nosso blog -- afirma que a rivalidade entre brasileiros e argentinos aumentou muito, e teme pelo pior.

A pedido de Ancelmo Góis, de O Globo, Helal fez o texto abaixo.


Amor e ódio entre brasileiros e argentinos
por Ronaldo Helal

“As narrativas da imprensa argentina sobre o nosso futebol eram muito elogiosas e os estereótipos gerados eram o da ‘alegria’ e do ‘jogo bonito’. Por conta disso, uma frase do antropólogo Pablo Alabarces permeou todo o trabalho: ‘os brasileiros amam odiar os argentinos e os argentinos odeiam amar os brasileiros’.

Pelé tinha sido colunista do ‘Clarín’ em diversas Copas e, na de 1990, ele é anunciado como o melhor da História, em foto com Maradona.

As provocações ao Brasil surgem apenas a partir de 1998, mas somente no ‘Olé’, jornal esportivo que tem uma linha editorial irônica. O debate sobre quem teria sido melhor (Pelé ou Maradona) só começa a aparecer no meu estudo a partir da Copa de 2002.

Os jornais daqui mostram que nossa implicância com os argentinos é anterior à deles conosco, além de ser mais intensa. Nossa imprensa vem provocando a Argentina desde 1994, e chegamos ao ápice de varar a madrugada para torcer contra a Argentina na Copa de 2002. Maradona chegou a ser tratado nesse período como ‘gordote cheirador’.

Por conta da internet e com a consciência dos argentinos de que nós sempre torcemos contra, eles passaram a ‘amar nos odiar’ também.

Com a Argentina na final da Copa, um número grande de argentinos está vindo para o Rio. Eles criam canções tripudiando do Brasil, e os brasileiros se sentem ofendidos, como se nós não fizéssemos o mesmo. Nós nos esquecemos de que a publicidade brasileira em períodos de Copa tem quase sempre o argentino como nosso ‘outro’ a ser tripudiado. Lembremo-nos da Copa passada. Em um comercial, uma latinha de cerveja chamava um argentino de ‘maricón’. E isso era engraçado.

Muitas dessas ‘provocações’ de ambos os lados, fazem parte do universo futebolístico, daquilo que a sociologia costuma chamar de ‘relações jocosas’! Meu receio é que saiamos do universo das relações jocosas para o da intolerância perigosa, de o ‘amar e odiar’ se transformar somente em ‘odiar’.

A imprensa de ambos os países poderia trabalhar para impedir que a rivalidade se cristalize dessa forma”.

Um comentário:

  1. Excelente, sempre lúcido.

    O problema é a perspectiva, que cada vez se torna pior...

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