quarta-feira, 3 de março de 2010

Propagandas (18)


Dessa vez, não iremos colocar um comercial, outdoor ou campanha publicitária, mas sim uma análise destas, feita por ninguém menos que Washington Olivetto, o maior nome da publicidade brasileira em todos os tempos.

No texto "Don't Cry for Us, Argentina", publicado em 2007, Olivetto faz um histórico de e um comparativo entre a publicidade brasileira e a argentina - e seus povos, também.

Como diria Lulu Santos, por "questão de espaço, e também de tempo", não transcreveremos o texto todo.

Mas uma coisa é certa: é GE-NI-AL

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Pelo menos numa coisa sou diferente da maioria dos meus colegas, publicitários brasileiros: não tenho nenhuma implicância com a Argentina nem com os argentinos.

Pelo contrário. Acho Buenos Aires uma linda cidade, considero o Hotel Alvear um dos melhores do mundo, gosto do bife de chorizo, dos vinhos Catena Zapata, das canções de Aníbal Troilo, Astor Piazzolla e Fito Paez, do humor do Les Luthiers e do futebol de Maradona, Verón, Mascherano, Messi e Tevez.

Só não torço para a Argentina quando ela joga contra o Brasil, mas, quando os hermanos jogam melhor e vencem, reconheço a sua superioridade e nem fico muito chateado.

No entanto, neste momento, apesar de minha admiração pela Argentina e pelos argentinos, discordo frontalmente de alguns colegas, publicitários brasileiros, que acham que a publicidade argentina anda melhor que a publicidade brasileira. Isso ainda não é verdade.

A publicidade argentina foi, sim, melhor que a brasileira nos anos 50 e 60 do século passado.

Mas, a partir de 1960, a geração profissional anterior à minha solidificou o negócio da publicidade no Brasil e criou condições para que, a partir dos anos 70, a nossa geração não só superasse os argentinos, como também colocasse a publicidade brasileira entre as melhores do mundo.

Para isso contamos, inclusive, com a colaboração de alguns magníficos profissionais argentinos que perceberam o que estava acontecendo e vieram para cá.

Casos, por exemplo, dos brilhantes diretores de arte Armando Mihanovich e Aníbal Gustavino e do excepcional diretor de comerciais Andrés Bukowinski
.

Na verdade, o que acontece nos dias de hoje é que a publicidade mundial vive uma enorme crise criativa e de identidade, e a publicidade brasileira vive, além dessas duas, uma lamentável crise de auto-estima.

Coisa que pode ser entendida se misturarmos um retrospecto do passado com dados do presente e especulações sobre o futuro.

O "Garoto Bombril": criação do publicitário argentino Andrés Bukowinski

A publicidade no Brasil começou nos anos 40 e 50 através das agências norte-americanas. A Thompson e a McCann foram as pioneiras.

Nos anos 60, a publicidade brasileira foi tremendamente influenciada pela geração Doyle/Dane/Bernbach. Implantou as duplas de criação, formadas por redator e diretor de arte. E recebeu também algumas influências da boa publicidade inglesa.

Essas influências, somadas a elementos da nossa cultura popular, criaram um jeito brasileiro de fazer publicidade.

O Brasil é um país atípico. Oficialmente, está localizado na América do Sul, mas, na realidade, é um continente separado.

Fala uma língua diferente da dos outros sul-americanos, o português do Brasil, e tem diferentes costumes.

(...)

Nós, brasileiros, se recuperarmos a nossa identidade (a melhor maneira de ser absolutamente internacional é ser totalmente local), recuperaremos a nossa auto-estima.

Assim como os nossos hermanos argentinos vão crescer e muito, principalmente quando perceberem que precisam transformar seu bom trabalho em bom negócio. Para agências e anunciantes.

Torço para que isso aconteça e não vejo motivos para pensar diferente.

Nossas identidades (de brasileiros e argentinos), se, de um lado, se contrastam, de outro, se completam. E nossas opiniões sobre nós mesmos às vezes até se parecem.

Tenho o exemplo vivo disso dentro da minha casa, em duas camisetas que estão enquadradas e penduradas com o maior carinho nas paredes do meu escritório.

Uma da seleção brasileira, que ganhei do Pelé no final dos anos 70, com a dedicatória "Para o 10 da publicidade, do 10 do futebol". E a outra da seleção argentina, que ganhei do Maradona em 1996, com a dedicatória "Para el diez de la publicidad, del diez del fútbol".


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