quarta-feira, 2 de junho de 2010

Isso é Jornalismo! (22)


Segue o excelente texto de Jorge Santana, intitulado "Torcer é coisa de Argentino", publicado no blog "Cruzeiro". Com um título à primeira vista ambíguo, Santana faz uma análise extremamente imparcial e lúcida daquela que talvez seja a maior paixão popular tanto de brasileiros quanto de argentinos.
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Recentemente, a Definhante tomou pancada de todo jeito. Jogadores, cartolas e treinador fizeram fila, um atrás do outro, pra reclamar dela. Quem começou foi o Correia, ano passado.

Atrás dele, veio o boquirroto espinafrando a massa. Como virou avacalhação, treinador e centroavante também entraram no trenzinho e desceram a mutamba nos infiéis emplumados.

Aqui no PHD, não passa dia sem que o Othon e o Walfrido reclamem da galera celeste. E o JJ, sem jamais ter ido a um jogo do Cruzeiro, só a critica com meia dúzia de pedras na mão. Crítico telepático.

Ontem, o Chiabi Jr. foi ao Morumbi e ficou, diria o Frede, perplectocom o comportamento, tão vil quanto pouco varonil, dos são-paulinos.

As torcidas brasileiras são iguaizinhas da silva. Feitas do mesmo material, tiradas do mesmo caldeirão cultural. Todas padecem do mesmo mal, a ciclotimia.

Nem imaginação têm. Plagiam cânticos argentinos e, depois, copiam-se umas às outras. E vaiam. Como vaiam! Vaiam a té a si mesmas. Vaiam tanto quanto os irmãos do Prata alentam seus times.

Na Argentina qualquer clube com 20 mil torcedores tem saite, sócios, cancha de jogo, ginásio poliesportivo e o escambal. Alguns mantêm escolas para filhos dos sócios.

Lá, futebol é programa obrigatório de fim de semana. Não importa em que divisão ou posição na tabela esteja o clube.

É assim que funciona. Quem duvidar, confira in loco, como eu fiz ao passar uma semana numa praia argentina situada em Santa Catarina.

Ao invés de enxurrada de camisas do River e do Boca, vi jomens e mulheres, crianças e velhos, com camisas do Instituto, do Banfield, do Tomba, do Beraztegui, do Tiro Federal, do Atlanta, do Lanús, do All Boys, do Ben Hur, do Defensa y Justicia, do Atlético Rafaela, enfim, de clubes de todos os quadrantes do país hermano.

As pessoas torcem pelo clube do bairro e podem ou não cultivar alguma simpatia pelas grandes agremiações. Mas, em primeiro lugar, preservam sua identidade, sua cultura local.

Isto, sim, é paixão pelo futebol. O resto é paixão apenas pela vitória. E o resto, em termos de torcida, somos nós, brasileiros.

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