sábado, 20 de março de 2010

Isso é Jornalismo! (17)


O tipo de matéria que mais agrada o editorial do "Hermanos & Brazucas" é aquele com brasileiros tecendo comentários positivos em relação aos argentinos: além de mostrarmos que não somente nós do blog somos contrários às maldosas ideias criadas em torno do povo vizinho, é sempre bom vermos que muita gente gosta do povo e da cultura da Argentina.

É o caso deste ótimo texto de Gabriela Chaves, publicada no site "overmundo", já referenciado aqui outras vezes.

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Brasil x Argentina, além da rivalidade

Para nós brasileiros, a Argentina se resume na rivalidade dos jogos de futebol e nas relações econômicas entre os dois países. Mas, na realidade, há muito mais em comum entre Brasil e Argentina que o MERCOSUL e uma ou outra partida de futebol.

Para começar podemos citar as diferenças regionais. Para se falar de Brasil é preciso entender os distintos “Brasis”, na Argentina não é diferente, cada região tem sua História e estórias, seu sotaque, sua gente. No Norte, assim como no Norte do Brasil, prevalece a influência dos povos indígenas, na província de Buenos Aires, há a influência de espanhóis e italianos, em Misiones, a de alemães, no Sul, a de ingleses e nos campos, dos gaúchos.

É, gaúchos! Para nós brasileiros, gaúcho é aquele nascido no Estado do Rio Grande do Sul, mas na verdade, os gaúchos não se resumem em um Estado, esse é o nome usado para designar todo camponês, criador de gado, que viveu nos séculos XVIII e XIX na região dos pampas da Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul.

Por isso mesmo é que os sulistas brasileiros se assemelham tanto com os Argentinos, chimarrão – ou apenas mate, como se diz na Argentina – bombachas, o uso das palavras ou semi-palavras “Che” e “ba” não é apenas coisa da região sul do Brasil, no país da região de la plata também são muito utilizadas. E mais, assistir a uma apresentação de dança folclórica no país dos “hermanos” ou no Rio Grande do Sul não é muito diferente.

Nas academias uma das modalidades mais procurada é o “Brasileño”. O que seria o Axé para nós. Fui um dia assistir a uma dessas aulas, na sala não havia apenas jovens, mas também crianças e senhoras de meia idade. Trajavam calças brancas, parecidas com o abada da capoeira, estampadas na parte inferior com a bandeira do Brasil, o que dava um movimento gracioso no contexto coreográfico da dança.

O interessante era ver uma menina de nove anos dançando tão bem quanto, e com a mesma energia de uma bahianinha da mesma idade, vendo-a dançar sentia-me em casa, mesmo não gostando muito desse estilo de música. Nas festas de casamento há um momento muito esperado: o carnaval carioca, onde são tocadas músicas antigas de axé, como a “Dança do Vampiro” da banda Asa de Águia, e ainda marchinhas de carnaval. Além disso, há uma rádio que só toca música brasileira, destaque para a MPB e a Bossa Nova.

A dança típica da Argentina todos nós conhecemos: Tango. O que há de comum entre o Tango e as manifestações culturais brasileiras? A resposta está na origem. Assim como o Samba, o Frevo e o Maracatu, a origem da mais difundida dança argentina teve influencia africana. Na Argentina também houve escravidão e o Tango inicia-se nos bailes negros, primeiramente era uma dança mal vista, ao poucos foi se tornando uma dança elitizada.

As tanguerias cobram caro pela entrada, ainda bem que podemos assisti-lo fora delas, nas ruas, em finais de semana, é possível ver casais dançando em alguns pontos turísticos. Além do Tango, existe também a Milonga e o Chamamé, muito conhecidas na região, mas pouco difundidas no mundo, um leigo confundi fácil a Milonga com o Tango. Mas e para onde foram os negros argentinos? Imigraram, muitos para o Brasil, não suportaram o frio que faz no inverno.

Na política o cenário não é diferente, corrupção e mais corrupção, mentiras e desilusão, com o agravante da economia mais uma vez em crise, dessa vez é o monstro da inflação que bate à porta. Nas campanhas de eleição descobrimos mais uma coisa em comum: Muitos políticos argentinos contratam publicitários de campanhas políticas brasileiras para fazer sua propaganda.

Por último, a língua. Devido ao investimento e expansão de muitas empresas brasileiras na argentina, “os hermanos” têm grande interesse em aprender “a língua portuguesa brasileira”, em algumas escolas particulares já lecionam nossa língua, em certas universidades também, além de empresas diversas.

O ideal seria que nós brasileiros aprendêssemos o espanhol nas escolas para nos inteirarmos mais com restante da América do Sul já que a língua é um unificador de povos. Infelizmente, o Brasil fica um pouco por fora da ligação e unidade existente entre as nacionalidades latino-americanas de língua espanhola. Mas ainda bem que existe o famoso “jeitinho brasileiro”, que faz com que nós quebremos qualquer barreira de língua ou costume.

Afinal de contas, é colocando mais “água no feijão” que abrimos nosso coração para a infinidade de povos existentes em nosso próprio país e para os inúmeros turistas que nos visitam, e assim fazemos as diferenças, como a do feijão e arroz, caberem no mesmo prato e se transformarem numa combinação perfeita.


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