sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Off-Topic (2)

O nacionalismo é uma doença infantil; é o sarampo da humanidade. (Albert Einstein)

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O "Hermanos & Brazucas" tem um sonho de virar projeto: transformar as principais postagens em livro. Iremos enviar essa sugestão ao Consulado Argentino e às Fundações Culturais Brasileiras. Não sabemos quando, nem se, esse sonho vai se realizar. Mas iremos persistir na ideia.

Para quem quiser e se interessar, todas as nossas postagens podem ser encontradas ao lado, na coluna "Tangos & Sambas" clicando no tema principal.

Porém, esse não é o único motivo que nos fez cessar as postagens.

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Desde o início, sabíamos que essa era uma luta inglória: aquela em que se sabe não poder vencer. Jamais.

Nosso objetivo inicial - e final - foi quebrar os paradigmas de que "os argentinos são essencialmente preconceituosos e odeiam os brasileiros" enquanto que os "brasileiros são um povo extremamente pacífico, sem preconceitos".

Não, nunca quisemos inverter as situações. Nesses mais de dois anos de postagens, procuramos mostrar exemplos (e foram vários) que simplesmente derrubam esses mitos supracitados.

Acontece, porém, que nossos exemplos sempre serão as exceções. A regra é o brasileiro respeitoso e humilde e o argentino arrogante e racista. Sim, sim e sim.

Podemos ver isso até mesmo na eterna disputa entre Pelé e Maradona.

Em terras brasileiras, Pelé é visto como desprovido de defeitos, e Maradona como só tendo-os. À parte as questões pessoais, Pelé é conhecido por 'respeitar a todos', mesmo sendo ele quem mais debocha de qualquer comparação consigo, e que diversas vezes se auto-proclama "um Michelângelo, um Beethoven". Maradona, por outro lado, é sempre tachado de prepotente e 'desrespeitador', mesmo em inúmeras vezes elogiando jogadores brasileiros.


Pelé é idealizado: o brasileiro vencedor, superior a todos mas sempre humilde; e Maradona também: o argentino perdedor, inferior ao brazuca mas arrogante. Os problemas que Maradona teve fora de campo são transferidos para a nação e povo argentinos. As qualidades de Pelé, vistas como a verdade dos brasileiros.

E se um argentino decidisse pegar as declarações extra-pista de Juan Manuel Fangio e as de Nelson Piquet e resolvesse dizer que isso é a verdade sobre Argentina e Brasil? Os argentinos seriam todos respeitosos e elegantes. E os brasileiros seriam todos difamadores e prepotentes.

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É comum, bastante comum aliás, um brasileiro conhecer um argentino em qualquer situação e, ao ser bem tratado, se surpreender. Mas quantos outros argentinos ele conhecera antes e, destes, quantos o haviam tratado mal? Na maioria das vezes, nenhum.

Se pegamos 19 exemplos extremamente positivos de argentinos, estamos analisando fatos isolados, exceções. E quando 1 ou 2 exemplos negativos vêm à tona, eles são a realidade, imutáveis. Que matemática é essa?!?!

E se alguma vez aconteceu mau-trato ou rispidez (por um taxista, recepcionista de hotel, alguém caminhando na rua, um turista por aqui), não se entende como uma falha individual - e humana: é defeito do povo, deficiência moral.

"Mas eles pensam o mesmo de nós", é outra frase comum na boca de brasileiros: "Eles dizem que somos 'macacos', que somos 'vagabundos'", e por aí vai. Fizemos várias postagens aqui no blog desmentindo essas situações. A resposta? 'É, não é totalmente impossível que haja um argentino legal; mas ainda é uma exceção!'.

Fizemos questão de fazer deste espaço não um fórum de reclamações contra o preconceito anti-argentino, no Brasil: sabemos o quanto isso existe mas, antes, mostramos o quanto negros, gays e nordestinos, esses três, são ofendidos e discriminados por aqui. E trouxemos dados, estatísticas. Mesmo assim, estamos analisando "fatos isolados".

A verdade é que é mais fácil aceitar que todo o mundo -e os argentinos principalmente- é preconceituoso do que "fechar os olhos e olhar pra dentro de si mesmo" como diria Roberto Carlos (um dos maiores ídolos da história do Brasil E da Argentina).

Nunca quisemos fazer de conta que os argentinos são, eles sim, um povo pacífico e receptivo em sua totalidade, e que o brasileiro é discriminador em sua essência. Querer provar isso sim seria tolice: o preconceito, em todas as suas formas, é algo humano, e independe de cor, raça, origem, condição sexual.

Acontece que ainda insistem em dizer que o Brasil "só tem preconceito social", o que não é verdade e, inda que fosse, jamais poderia ser algo amenizador!

Se o brasileiro não fosse preconceituoso, o estado do Pará não teria sequer estudado sua divisão (e 33% dos eleitores não seriam favoráveis!), e uma jovem negra --13 anos!-- curitibana não teria sido agredida por sete (!) colegas de sala. Isso pra ficarmos em fatos acontecidos nas últimas semanas.

Pará, no Norte, Paraná, no Sul. Brasil, o país continente.


Os grandes conflitos históricos entre países (Irlanda e Irlanda do Norte, Israel e Palestina, Alemanha e Inglaterra, etc) vêm por conta de guerras, disputas territoriais ou religiosas. Aqui, é por conta do futebol (!). Não é possível ser mais injustificável.

Che Guevara, grande ícone argentino e que no Brasil é erroneamente conhecido como cubano, em 1961 foi condecorado por Jânio Quadros, presidente brasileiro. O sonho de Che era que a América Latina fosse uma só. Que nós fossemos uma força e, juntos, lutássemos contra o que ele entendia como verdadeiro inimigo.

Mas não, nós brasileiros não somos latinos. Latino é quem fala espanhol, a "América Latrina", dizem alguns. Por isso, é uma luta inglória, sem chance de vitória.

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Delicado é aquele para quem a pátria é doce. Bravo, aquele para quem a pátria é tudo. Mas perfeito é aquele para quem o mundo inteiro é exílio. (Hugo de São Vitor -- 1096 -1141)

2 comentários:

  1. Sem dúvida, este blog é o melhor que achei na internet!!! Cada palavra, cada oração, cada parágrafo...que orgulho!!! Esta bela "luta" tem que continuar!!! Grande abraço!!!

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  2. Esse blog cumpriu com maestria seu propósito (social), com a eficiência que jamais vi em qualquer outra corajosa atitude semelhante. É de um comprometimento imensurável e de uma nobreza impagável. Merece todo o nosso respeito, nossa atenção e todas as congratulações possíveis.

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